Vila Nova de São Pedro, de novo – no 3º milénio é um projecto com diversas valências e campos de acção cujo principal objectivo é realizar a valorização científica, patrimonial e social do povoado fortificado.
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Ficha Técnica · Associação dos Arqueólogos Portugueses
Campanha 2019
2019
Entre os dias 17 de Junho e 26 de Julho de 2019, decorreu a 3ª campanha de trabalhos arqueológicos no sítio de Vila Nova de São Pedro (CNS 190 – Monumento Nacional), sob a responsabilidade do projecto de investigação VNSP 3000, iniciado em 2017.
Além dos responsáveis científicos do projecto, integraram a equipa um conjunto de alunos de Licenciatura e Mestrado em Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, assim como da Licenciatura em Arqueologia da Universidade de Évora.
A intervenção consistiu em quatros acções de distinta natureza:
– limpeza por meios manuais e mecânicos de novos espaços ainda por desmatar (na procura de possíveis futuras áreas de escavação arqueológica);
– manutenção das áreas onde se encontram estruturas associadas à fortificação (Reduto Central e “2ª” e “3ª” linha de muralha);
– continuação da escavação manual das sondagens 1 da Área 1 e 3;
– início da escavação das sondagens 2 e 3 da Área 3, bem como o registo fotográfico, gráfico e topográfico de todas as realidades intervencionadas;
Antes do começos dos trabalhos arqueológicos, realizou-se uma planta topográfico de Vila Nova de São Pedro, ferramenta que não ainda existia e que será bastante útil para caracterizar a estratégia de implantação deste sítio. Este levantamento representa, com elevada precisão e detalhe, a morfologia da área envolvente de VNSP. A informação geográfica apresentada foi levantada com recurso a LIDAR aéreo e fotogrametria de curta distância, adquiridos por drone, em parceria com as empresas AtlanticLand e FlyGIS. As nuvens de pontos e modelações 3D obtidas, sobre as quais se criou esta planta topográfica, correspondem a um detalhado e preciso registo topográfico tridimensional da área, à data do levantamento. Além de serem, segundo o estado da arte, os métodos mais precisos e realistas para o registo do património, são uma excelente base para os trabalhos arqueológicos e permitem ainda, por comparação com dados futuros, fazer uma análise muito detalhada da evolução do estado de conservação deste sítio arqueológico.
Na Área 3, deu-se continuidade à escavação da Sondagem 1, iniciada em 2017. Mantiveram-se os 48m2 de área aberta, iniciados nos anos anteriores, alcançando-se níveis distintos, procurando obter a leitura mais global possível do espaço intervencionado, bem como das realidades arqueológicas colocadas a descoberto.
Nesta sondagem, foi possível continuar a observar níveis de ocupação integrados no Calcolítico, bem como a presença de outros níveis com perturbações pós-deposicionais que ainda carecem de total caracterização. Nos níveis de ocupação, os materiais arqueológicos recolhidos em 2019 enquadram-se igualmente nas diversas tipologias artefactuais caracterizadas em 2017 e 2018, com a natureza artefactual a manter a sua heterogeneidade.
O conjunto artefactual, seguindo a leitura que já se tinha obtido nas campanhas anteriores (Martins, et al, 2019), enquadra-se no Calcolítico regional, em conformidade com os dados provenientes das extensas campanhas de escavação levadas a cabo entre 1936 e 1967, dirigidas, inicialmente por Hipólito Cabaço (1936) e, depois, por Afonso do Paço e Eugénio Jalhay (até 1950).
Nesta campanha procedeu-se ao alargamento da Sondagem 1, na Área 1. A Sondagem 1 da Área 1 corresponde a uma grande área de intervenção localizada entre a 1ª e 2ª linha de muralha, a Oeste do “Reduto Central”. Em 2018, a intervenção neste espaço, mais do que escavação propriamente dita, correspondeu a uma limpeza manual, seguindo metodologia arqueológica adequada, procurando avaliar o grau de impacto que este espaço poderá ter tido em intervenções arqueológicas anteriores. A Sondagem 1 procura, assim, compreender como se desenvolve um pano de muralha que aqui se localiza (2ª linha), bem como a existência de um possível Fosso, que Afonso do Paço já havia referido numa das suas publicações (Paço, 1943). Em 2019, a meio da Sondagem 1, alargou-se para Oeste, com o objectivo de escavar os depósitos que poderiam colmatar a área da “2ª” linha de muralha, percebendo, também, o seu método construtivo, tentando captar níveis associados à sua ocupação e construção. A este objectivo, procurou-se identificar elementos artefactuais, faunísticos e orgânicos que possam ajudar a atribuir uma aferição cronológica a esta realidade estrutural.
Os trabalhos obedeceram a uma rigorosa metodologia arqueológica, desde a remoção/escavação de partes do interior da muralha, bem como na delimitação de níveis e estratos arqueológicos com clara ocupação humana. Todo o sedimento foi crivado, tendo-se procedido ao registo integral das realidades arqueológicas.
O espólio arqueológico recolhido vai ao encontro do já registado em outros espaços, claramente enquadrados com o Calcolítico.
Paralelamente aos trabalhos de escavação, foram limpas várias áreas em redor do sítio arqueológico, numa acção conjunta entre a equipa de Arqueologia e os Sapadores Bombeiros da Câmara Municipal da Azambuja e serviços da Junta de Freguesia. Esta actividade permitiu que mais espaço ficasse disponível para novas sondagens arqueológicas. Dessa forma, e uma área onde não ainda não se tinham realizado trabalhos arqueológicos, foram abertas duas novas sondagens (2 e 3 da Área 3), com 6x2m e 4x2m de dimensão, respectivamente. A Sondagem 2 será retomada na próxima campanha, sendo que a Sondagem 3 encontra-se finalizada.
Os dados referentes à intervenção arqueológica realizada em Vila Nova de São Pedro encontram-se descritos no Relatório do Pedido de Autorização para Trabalhos Arqueológicos (PATA), entregue à Direcção Geral do Património Cultural (DGPC).
Poderá, igualmente, consultar os principais resultados desta campanha no seguinte trabalho:
NEVES, César; ARNAUD, José M; DINIZ, Mariana; MARTINS, Andrea (2022) – O povoado calcolítico de Vila Nova de São Pedro (Azambuja). Notas sobre a campanha de escavação de 2019, Arqueologia & História, Vol. 71-72, Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 159-184.